31 de março de 2008

O que foi, coração?



A insensatez que você fez,
coração mais sem cuidado,
fez chorar de dor o seu amor.
Um amor tão delicado.
Ah! Porque você
foi fraco assim.
Assim tão desalmado.
Ah! Meu coração,
quem nunca amou,
não merece ser amado.
Vai meu coração, ouve a razão,
usa só sinceridade.
Quem semeia vento, diz a razão,
colhe sempre tempestade.
Vai meu coração,
pede perdão,
perdão apaixonado.
Vai, porque quem
não pede perdão,
não é nunca perdoado.

Insensatez

Vinícius de Moraes/Tom Jobim


Ontem fiz uma faxina no meu mp3 player e agora todos os 2 gigabits de memória estão esgotados com novas músicas. Enquanto eu escolhia as músicas para o player eu ia escutando um trechinho. Quando chegou a vez de Insensatez, por alguma razão que a razão desconhece mas que o coração conhece bem, fiquei ouvindo a música muitas vezes. De alguma forma a música achou em mim alguma ressonância. Engraçado que eu não sei o que foi... alguma coisa chorou em mim quando ouvi a música na voz de Emilio Santiago. Será que foi culpa, meu coração?

30 de março de 2008

Primavera II


Eu já tinha publicado o post abaixo quando me lembrei desse texto de Cecília Meireles e não poderia deixar de compartilhá-lo com quem gostar.


Primavera


A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.



Cecília Meireles

Primavera




Enfim a primavera. Oficialmente começou há um mês atrás, mas para mim começou ontem. Depois de um inverno quase sem neve, com meses de chuva e ventania, dias cinzentos, nublados e muita escuridão, enfim o verde está voltando. Fomos a uma cidade a uns 100 km de distância daqui, e lá sôbre o chão remanesce ainda uma espessa camada de neve. À medida que voltávamos, a paisagem mudava bruscamente do branco para o verde florescente. Bendita primavera! que vai tirar o môfo da minha alma.

28 de março de 2008

Asas negras


                                                             Asas Negras

Asas negras.
Sobrevoam em círculos
os meus sonhos gelados.
Vão e vêm
querendo pousar.
Envolvendo com sombra negra,
as memórias que clareiam
o chão de minha alma.
Asas negras.
Voam à procura
de um lugar para pousar.
Escurecendo o caminho dos meus passos,
turvando a minha visão.
Asas negras.
Me carregam para longe,
para outras terras,
escuras, frias, distantes.
Asas negras.
Não encontro o caminho de volta.
O medo me paralisa
e tua escuridão não tem fim.
Asas negras.
Vão embora,
voltem para a terra dos mortos
e deixem de assombrar meu sono,
que eu preciso achar meu rumo,
trilhar o caminho de volta para a luz.



27 de março de 2008

There is no difficulty

There is no difficulty
There is no difficulty that enough love will not conquer.
No disease that enough love will not heal.
No door that enough love will not open.
No gulf that enough love will not bridge.
No wall that enough love will not throw down.
No sin that enough love will not redeem.
It makes no difference how deeply seated may be the trouble.
How hopeless the outlook.
How muddled the tangle.
How great the mistake.
A sufficient realisation of love will dissolve it all.
If only one could love enough
you would be the happiest
and most powerful being in the world.
Emmett Fox


Não há dificuldade
Não há dificuldade que o Amor não supere.
Não há doença que o Amor não cure.
Não há porta que o Amor não abra.
Não há abismo sobre o qual o Amor não construa uma ponte.
Não há parede que o Amor não derrube.
Não há pecado que o Amor não redima.
Pouco importa quão difícil seja o problema,
ou quão desesperada seja a perspectiva.
Por maior que seja a confusão ou o erro.
O Amor dissipará tudo isso.
Se apenas você pudesse amar o suficiente,
você seriaa mais feliz e mais poderosa criatura no mundo..

26 de março de 2008

Jag älskar Hedemora - Hedemora meu amor








Hedemora é uma linda cidadezinha da Suécia. É uma cidade antiga, mais velha que o Brasil, foi fundada em 1446. Ainda conserva muitas das construções antigas, em madeira, pintadas de vermelho. Têm ruas estreitas e largas avenidas, têm muitos lagos e nenhum lugar que se possa dizer que não é bonito. Meu lugar preferido é o lago Hönsan, bem pertinho daqui de casa e onde eu costumo ir para pensar na vida. Tenho viajado bastante pela Suécia mas Hedemora é que é o meu lar.



25 de março de 2008

Um poema em imagem

Este é um poema colhido no verão passado em Säterdalen, um parque cultural e ecológico em Säter, cidade vizinha de Hedemora. Os suecos têm disso, às vezes eles me surpreendem com um senso de humor único. Cada vez que olho para esta foto, relembro o dia em que tirei a foto e como aquela cadeira azul ao lado das flores na margem do lago mexeu comigo. Primeiro achei engraçado, depois achei meio fora de lugar, mas por fim acabei achando que era um poema. Depois das primeiras impressões, cada olhar para aquela cena se traduzia numa interpretação diferente. A foto não está mal, era um dia quente e ensolarado de verão e o parque estava lotado de gente por causa de uma exposição de carros antigos. Uma outra forma de fazer poesia concreta foi quando começaram a aparecer nas praças de diferentes lugares da Suécia, cachorros de madeira. Alguém algum dia esculpiu um cachorro em madeira e colocou numa praça, logo começaram a aparecer esculturas de cachorros por todos os lugares. Tão diferentes umas das outras como as pessoas que as esculpiram.

23 de março de 2008

Asas brancas

Asas brancas.
Nas mornas manhãs dos meus sonhos.
Asas brancas.
Voam devagar por entre as nuvens,
levadas pelo vento.
Asas brancas.
Trazem os brinquedos irreais
da minha irreal infância.
Trazem a tia magra e boazinha
e a vovó doce e delicada.
Asas brancas.
Trazem o abraço seguro e terno
daquele que agora só viaja nos meus sonhos.
Asas brancas.
Trazem histórias de lobos
e rastros de sangue na neve,
de lagos congelados no tempo,
de cavalos e gansos.
Trazem cossacos de espada na mão.
Trazem tua voz
chamando Spaiglis.
Asas brancas.
Trazem tuas palavras fortes e justas.
Trazem tua imagem e tua coragem.
Asas brancas.
Trazem imagens de uma terra
longínqua e maravilhosa,
feita de sonho,
mesmo estando
geograficamente no mapa.
Asas brancas.
Te trazem sempre junto com o sol.
E moras nos meus sonhos eternamente.
Cris Mockaitis


Para você papai, aí na terra da eternidade onde está, uma Feliz Páscoa junto com os anjos.


20 de março de 2008

Pegadas


PEGADAS

Espanta-me saber que um dia
minhas pegadas serão apagadas
do chão deste mundo.
Surpreende-me lembrar
que toda uma vida,
não passa de efêmero piscar.
E ainda que às vezes
pareça eternidade,
na grande luz da humanidade
minha vida não passa
de um lampejo de claridade.

Cris Mockaitis

19 de março de 2008

Minha terra tem políticos corruptos mas eu sinto falta é das palmeiras...


Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Antônio Gonçalves Dias

18 de março de 2008

Rasmus - the cat


Este é Rasmus, um adorável gatinho cheio de amor para dar. Rasmus é um gato incomum, é totalmente desprovido de agressividade. Ele adora ser acarinhado, dormir no colo e estar sempre junto de nós. Gosta de dormir na cama com a cabecinha no travesseiro no meio de nós.
Ele mia como um filhotinho... Fica junto à porta e mia para sair de casa. Daí a dez minutos arranha a janela da cozinha para entrar e daí a meia hora quer sair de novo. Entra em casa correndo, chacoalhando para longe os flocos de neve de suas costas.
Maravilhoso perceber como os animais assim como nós, têm diferentes personalidades. Quem acha que os animais são coisas, está redondamente enganado. Melker é o gato de Mildred, a mãe de Tomas, e é total e completamente diferente de Rasmus. Melker é totalmente inquieto e desassossegado mas é carinhoso.
Mas nada neste mundo é perfeito... Seria bom se Rasmus fosse meu gato, mas não é. Ele é o gato do vizinho. Entrou aqui um dia há quase um ano atrás por um descuido de meu marido, comeu da comida do cachorro, gostou e voltou sempre. Como é muito carinhoso e afetuoso Tomas passou a comprar comida para gato também e um belo dia, Rasmus não saía mais daqui. Quando nossa querida cachorrinha Tussan morreu no dia de ano novo, foi muito difícil para Tomas que a criou desde bebezinha e que foi a única companhia dele quando ele morou em Ingvallsbenning, na zona rural outside Hedemora por cinco anos. Nós não sabemos o que é que o vizinho pensa disso, mas Rasmus é e será sempre bemvindo e bem tratado aqui em casa, onde ele se sente em casa também. Porém sabemos que um dia o vizinho pode se mudar e então nunca mais veremos Rasmus novamente. Agora estamos pensando em comprar um cãozinho bebê e talvez adotar um outro. Aqui há muitos esperando por adoção. São cachorros que foram abandonados ou sofreram maltratos em países como a Irlanda, Portugal (também tenho visto na net muitos portugueses maravilhosos que amam, se preocupam e cuidam dos cães e gatos, seus próprios e os sem lar) e outros. Os suecos são maravilhosos. Eles trazem os cachorros para cá e arranjam bons lares para eles. Vimos um cãozinho português chamado Panini e ficamos apaixonados por ele. E vai ser bom para mim já que eu falo português... vamos nos entender maravilhosamente bem. Hehe...


17 de março de 2008

How flags are born - Como nascem as bandeiras

Esta é a bandeira da Nova Zelândia. Uma bandeira comum. Compare com a bandeira da Austrália. O neozelandês que disse que a bandeira do Brasil é a mais feia do mundo parece ser daquelas pessoas que querem aparecer não por algum mérito próprio mas por causar polêmica. Ou seja, ele não contribuiu com nada importante para a humanidade com essa pesquisa, apenas escarrou seu preconceito no rosto dos brasileiros e de outros povos cujas bandeiras ele também classificou de feias. Ele diz que levou em conta apenas o valor estético e classificou nossa bandeira como uma atrocidade. Ele tem uma lista de títulos acadêmicos em seu currículo mas tem um senso de humor muito rústico. Humor sim, ele publicou a pesquisa na página de humor de sua webpage. Ele acha engraçado vomitar seu preconceito na cara de pessoas como nós. E ele parece não entender muito de bandeiras, senão saberia que uma bandeira nasce não do desejo por um símbolo meramente estético, mas da vivência histórica de um povo e retrata as lutas desse mesmo povo pela liberdade, pelo direito de ser e de estar aqui nesta colcha de retalhos nada estética, chamada Terra. Todas as bandeiras são lindas porque foram desenhadas com o sangue dos que lutaram por seus ideais de liberdade. Dizer que uma bandeira é feia é o mesmo que dizer que o povo que é representado pela bandeira não tem valor. Agora que ele já teve os seus quinze minutos de fama, vou classificá-lo no rol daquilo que não tem nenhuma importância e lembrar de um poeta chamado Pablo Neruda que assim escreveu sobre as bandeiras:



Como nacen las banderas
Estan así hasta hoy nuestras banderas.
El pueblo las bordó con su ternura,
cosió los trapos com su sufrimiento.
Clavó la estrella com su mano ardiente.
Y cortó, de camisa o firmamento,
azul para la estrella de la patria.
El rojo, gota a gota, iba nasciendo.

Como nascem as bandeiras



Estão assim até hoje nossas bandeiras.
O povo as bordou com sua ternura,
coseu os trapos com seu sofrimento.
Cravou a estrela com sua mão ardente.
E cortou de camisa o firmamento
azul para a estrela da pátria.
O vermelho, gota a gota, ia nascendo.

How flags are born



That’s how our flags are to this day
the people embroidered them with their tenderness,
sewed the rags with their suffering.
They fastened the star with their burning hands.
And cut, from shirt or firmament,
blue for the country’s star,
the red, drop by drop, was being born.

Pablo Neruda (12/07/1904 - 23/09/1973), escritor chileno considerado um dos grandes e mais influentes poetas do século 20.
Pablo Neruda (July 12, 1904 - September 23, 1973), chilean writer is considered one of the greatest and most influential poets of the 20th century.

14 de março de 2008

Também sou ilha...

Também sou ilha...
perdida num mar de ilusão,
porque tudo além de mim
são grades de prisão.
Também sou ilha
quando tento alcançar
a profundeza de teu olhar.
Como uma ilha pequenina
ninguém sabe de mim,
das minhas cores,
das minhas chuvas e ventos,
das minhas dores.
Quando tu vieste
com tua nau vazia
e teu olhar de conquista,
eu era apenas uma ilha.
Chegaste com fome e sede
e da minha água bebeste.
Saciaste tua fome
com minhas dádivas
e adormeceste cansado,
na areia branca.
Mas teus sonhos,
eram sonhos de conquistador...
Tão logo encheste teu barco com meu ouro
já tua nau se entregou ao mar.
Outras ilhas, outros tesouros.
E eu,
ilha perdida de mim.


(Cris Mockaitis)


Somos todos ilhas. Ilhas do imenso arquipélago da humanidade, ilhas de nós mesmos. O que me fez pensar sobre sermos ilhas foi o poema de Oswaldo Montenegro. "Ilha não é só um pedaço de terra cercado de água por tudo quanto é lado. Ilha é qualquer coisa que se desprendeu de qualquer continente..... Até a lágrima é ilha, deslizando no oceano da cara."

12 de março de 2008

Eu só quero um momento...


Eu só quero um momento…
Um momento mais.
Quero ouvir o sussurro do vento
antes de partir.
Quero molhar meus pés na água fria do mar.
Trazer-te da espiral do tempo
E por um momento
fazer-te imortal.
Apenas um momento,
colhido no pó dos séculos,
para abraçar a tua memória
e te dizer as palavras que antes calei.
Quero apenas um momento
para tocar a tua face
como quem toca uma flor.


Cristina Mockaitis

4 de março de 2008

O que é a felicidade?


Esta foto foi tirada em julho, no verão de 2007, da sacada de meu apartamento. Esta parte de Hedemora, uma pequena cidade do interior da Suécia, é muito privilegiada pela natureza. Cercada de colinas que se vestem das cores do inverno, do outono e da primavera, é um ninho de arco-íris. A câmera captou apenas parte da vista maravilhosa que eu tinha à minha frente. É difícil descrever a beleza e a magia deste momento efêmero, pleno de luz, de cores, de paz. Eu não tinha nenhum motivo especial, mas senti uma felicidade e uma paz tão intensas, como se o tempo tivesse parado, como se eu tivesse recebido um presente de Deus. E foi um presente de Deus. Um momento de comunhão com o universo, a alegria de ser parte da natureza, a gratidão pela vida, a esperança brotando outra vez no coração. Este foi o pote de ouro que eu apanhei no fim do arco-íris: a felicidade, simples, poderosa e inexplicável.